Queridos irmãos religiosos e leigos da Família Pavoniana:

Escrevo esta carta nestes dias em que a Igreja e o mundo vivem, com tristeza, muita fé e esperança a morte de nosso querido papa Francisco. Esta carta que ser uma homenagem de toda a Família Pavoniana a este homem simples, humilde e coerente, que guiou a Igreja Católica, nestes últimos doze anos. Penso que Francisco foi uma primavera para a Igreja, para o mundo e, como não poderia ser de outra maneira, para a Vida Consagrada. Chama a atenção sua fé em um Deus que continua caminhando e amando o mundo atual, sua insistência em voltar ao evangelho, ao essencial, à fraternidade e comunhão como modo de ser povo de Deus, à predileção pelos pobres, à paz fruto da justiça. Ainda ressoa em nossos ouvidos sua voz, pedindo uma Igreja com entranhas de mãe, que abre as portas a todos, todos, todos… onde cada um possa encontrar o rosto de um Pai que escuta, compreende e perdoa sempre. Um Pai que está sempre com os braços abertos para acolher a todos seus filhos e filhassem restrição alguma, porque nunca se cansa de perdoar. Há muitas palavras que definiriam o pontificado de Francisco, basta recordar estes conceitos aos que cada um acrescentará os que mais lhe ajudaram: fé-confiança em Deus, misericórdia-perdão, alegria-gozo, fraternidade-comunhão-povo-sinodalidade, santidade no cotidiano(santos da porta ao lado, vizinhos),  cuidado com a Casa comum, abertura-esperança, discernimento-sinais dos tempos, pureza de coração- pobreza, acolhida e integração-migrantes e refugiados, pobres-justiça e paz, Maria-Mãe-mulher…

Gostaria de partilhar com vocês algumas ideias deste pontificado que papa Francisco apresentou com seus múltiplos gestos que todos vimos, admiramos e que podem nos ajudar na vivência de nossa vocação pavoniana. Há três palavras ou atitudes-chave que podem nos ajudar:

1.      Alegria. Em um mundo cansado e triste, em um mundo agoniado por tantos problemas e situações difíceis, o cristão, ainda mais o religioso, deve transmitir alegria e gozo. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira dos que se encontram com Jesus” (EG 1). Precisamos fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus. “Convido cada cristão, em qualquer lugar e situação em que se encontre, a renovar, agora mesmo, seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por ele, de tentar cada dia sem descanso” (EG 3). A tristeza e o pessimismo permanentes em um pavoniano, seja religioso ou leigo, é sinal da falta de uma experiência pessoal com Cristo. «Tornarei a vos ver e se alegrará o vosso coração e ninguém poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16,22).Depois, ao verem-no ressuscitado, «se alegraram» (Jo 20,20).A alegria nasce, também, do encontro com outras pessoas que partilham nossa vocação, nossa vida e missão. “Consideramos nota característica de nossa Com­unidade a alegria de viver, cada dia mais, como irmãos”(RV 128). Somos chamados a gozar com o que somos e temos. Fixarmo-nos somente nas dificuldades, limites e pecados, que como humanos temos, faz-nos perder a alegria, a generosidade e a disponibilidade para a missão, faz-nos perder o entusiasmo, a confiança, a esperança e, por fim, a vocação e a fé. Peçamos ao Senhor a graça de aprender a viver o momento presente com serenidade, confiança, esperança e alegria. Peçamos para olhar o futuro como oportunidade e não como ameaça, pois ele e o nosso fundador caminham conosco e nos olham com amor e predileção. Parafraseando Santa Teresa que dizia: “Um santo triste é um triste santo”, podemos dizer que um “pavoniano triste é um  triste pavoniano”.Não deixemos que nos roubem a alegria!” (EG 83)

 

2.     Esperança. Não é um otimismo ou um estado de ânimo sem fundamento que se torna atitude passageira e desaparece frente às dificuldades ou dissabores  da vida. A esperança, essa que não engana, tem seu fundamento na confiança no Senhor, “a falta de espiritualidade profunda se traduzem pessimismo, em fatalismo, em desconfiança” (EG 275) e também nas pessoas que caminham  conosco, “Faz  falta ajudar a reconhecer que o único caminho consiste em aprender a se encontrar com os demais com a atitude adequada, que évalorizá-los e aceitá-los como companheiros de caminho, sem resistências internas” (EG 91). Não podemos e nem devemos ignorar ou esconder as dificuldades que temos, especialmente nas relações entre nós. Devemos ter sempre um realismo sadio que nos ajude a afrontar as dificuldades e desafios como possibilidade para reforçar nossa esperança, para olhar o presente e o futuro não como uma ameaça, mas como uma oportunidade.  “Não deixemos que nos roubem a esperança! (EG 86).

 

3.     Misericórdia. Experimentar a misericórdia de Deus em nossas vidas nos ajuda a sermos misericordiosos: “A Igreja vive um desejo inesgotável de oferecer misericórdia, fruto de haver experimentado a infinita misericórdia do Pai e sua força difusiva” (EG 24). Nossas relações devem escolher sempre o caminho da misericórdia e do perdão. O nome de Deus é misericórdia, o nome de nossa Família Pavoniana deve ser também misericórdia. A misericórdia exige ter um coração de carne, capaz de amar e ser amado; exige empatia; exige apreço e amor pelo outro; exige diálogo, escuta e interesse pela história do outro; exige afastar de nós a cultura da indiferença, arma letal que mata as pessoas no coração. “Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno! (EG 101).

 

Nestes momentos de nossa história como Família Pavoniana, temos alguns desafios que o pontificado de papa Francisco nos ajuda a enfrentar:

1.     Aprender a viver o presente com serenidade, paixão, confiança e esperança. “Na ordem presente das coisas, a misericordiosa Providência está nos levando para uma nova ordem de relações humanas que, por obra dos homens e, a maior parte das vezes, para além do que eles esperam, se encaminham para o cumprimento dos seus desígnios superiores e inesperados” (EG 84). Às vezes, olhando a realidade, ficamos no lamento estéril e compadecendo-nos de nós mesmos: somos poucos, idosos, pouco santos… isto nos leva a um  desânimo, a uma acédia e desconfiança, enfim, a uma morte prematura. Não é verdade que somos poucos, que somos velhos, que somos pouco santos. Somos o que somos, somos como somos, mas sempre a caminho, com um desejo de conversão, de fraternidade e de empenho na missão confiada. A realidade não depende da quantidade, mas da qualidade. Esta cresce com a ajuda de Deus e com a colaboração ativa de cada um de nós. Vivendo com paixão o presente, construímos o futuro promissor.

2.      Aprender a nos querer (fraternidade) na pluralidade, na diversidade e na interculturalidade. Não é verdade que não temos vocações, não é verdade que Deus não nos manda jovens para viver conosco a vocação e a missão pavoniana. Isto pode ser no contexto europeu, mas não em outros contextos. Estão chegando à nossa Família jovens brasileiros, colombianos, mexicanos, africanos, asiáticos, do Caribe… São um dom de Deus, uma bênção. Devemos aprender a viver juntos uns e outros como família. Não podemos perder tempo e energia sem batalhas inúteis e estéreis.  Temos que ir ao essencial que nos une: a co filiação comum e a comum vocação. “As diferenças entre as pessoas e comunidades, às vezes, são incômodas, mas o Espírito Santo, que suscita essa diversidade, de tudo pode tirar algo bom e transformá-lo em um dinamismo evangelizador que atua por atração. A diversidade tem que ser sempre conciliada com a ajuda do Espírito Santo; somente ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade. A o invés, quando somos nós que queremos a diversidade e nos fechamos em nossos particularismos, em nossos exclusivismos, provocamos a divisão; e, por outro lado, quando somos nós que queremos construir a unidade com nossos planos humanos, terminamos por impor a uniformidade, a homologação” (EG 131). Peço aos jovens de qualquer nacionalidade que nos ajudem,  a nós adultos e aos anciãos, a continuar sonhando, a manter viva a utopia. Peço aos adultos e anciãos para acolher e acompanhar os jovens por meio de uma vida coerente e verdadeira.

3.      Fidelidade criativa na missão confiada, com estilo sinodal

a)     Missão específica da Familia Pavoniana. O carisma transmitido por nosso santo fundador continua levando-nos, hoje, a entregar a vida no acompanhamento e cuidado dos adolescentes e jovens mais necessitados. Não podemos perder de vista isto. Devemos continuar dando respostas novas aos desafios novos dos jovens de hoje. Para isto, é necessário estar atentos para discernir os sinais dos tempos, aos novos contextos e  às novas pobrezas…O papa Francisco nos convidou fortemente a sair às periferias geográficas, existenciais e culturais para levar o evangelho e a mensagem libertadora de Jesus. O religioso deve ir ali onde ninguém quer ir. Para isso, é necessário crescer cada dia em generosidade e disponibilidade, sair de nossa  zona de conforto para ir ao encontro dos jovens mais necessitados, ser seus companheiros de caminho e seus educadores. Na Ideia Geral, das Constituições afirma-se que a Congregação deve estender os braços  caritativos ali, onde é necessário (Abertura no Brasil, Filipinas, México, Colômbia, Burkina, Eritrea, Nigéria, Etiopia?,Haiti?...).

b)     Missão compartilhada-sinodalidade. A missão é única, os agentes da missão somos toda a Família pavoniana. Temos que crescer todos, religiosos e leigos, no sentido de pertença à Família, adesão e compromisso afetivo (vocação) e efetivo, não somente teóricos ao projeto demissão: “Situa-se, neste marco de referência eclesiológica, o compromisso de promover a participação na base da corresponsabilidade diferenciada. Cada membro da comunidade deve ser respeitado, valorizando suas capacidades e dons com vistas a uma decisão compartilhada” (DFS 89). Precisamos transmitir uns aos outros a paixão pelo carisma e a missão.

4.      Visão global da realidade. Ainda nos dominam os localismos e provincialismos. Somos, ainda, de olhar muito curto, pouco universais. A realidade pavoniana vai além do que cada um vive cada dia, em seu próprio contexto. Conhecer, interessar-nos e apreciar a realidade completa de nossa Família nos ajudaria a vencer o cansaço, o desânimo, a desconfiança, o pessimismo e a desesperança que, às vezes, nos invade. Isso nos ajudaria a crescer em fraternidade, solidaridade, alegria e disponibilidade. Ajudaria a continuar acreditando que nossa Família ainda é lugar e meio onde se realiza a salvação. Ajudaria a experimentar que as misericórdias do Senhor não foram somente para o passado, mas que são também para o presente e o futuro.

Papa Francisco nos recordou: Espero que «desperteis o mundo», porque a nota que caracteriza a vida consagrada é a profecia…os religiosos seguem o Senhor de maneira especial, de modo profético». Esta é a prioridade que, agora, é exigida de nós: «Ser profetas como Jesus viveu nesta terra... Um religioso nunca deve renunciar a profecia» (Encontro com os superiores gerais,29 de novembro de 2013).

Estamos vivendo, em nossa Família, processos, transformações. Emtodo este caminho que estamos percorrendo, devemos ter presente quanto nosrecordava papa Francisco, na Evangelii Gaudium:

-      O tempo é superior ao espaço: “Este princípio permite trabalhar, alongo prazo, sem obsessionar-se por resultados imediatos. Ajuda a suportar com paciência situações difíceis e adversas, as mudanças de planos que o dinamismo da realidade impõe. É um convite para assumir a tensão entre  plenitude e limite, outorgando prioridade ao tempo” (EG 223).

-      A realidade é mais importante que a ideia: “Isto supõe evitar diversas formas de ocultar a realidade: os purismos angélicos, os totalitarismos do relativo, os nominalismos declaracionistas, os projetos mais formais que reais, os fundamentalismos a históricos, os eticismos sem bondade, os intelectualismos sem sabedoria” (EG 232).

-      O todo é superior à parte: “Entre a globalização e a localização, também se produz uma tensão. Faz falta prestar atenção ao global para não cair em uma mesquinhez cotidiana. Ao mesmo tempo, não convém  perder de vista o local, que nos faz caminhar com os pés por terra” (EG 234).

Agendado mês

-      3: Ordenação sacerdotal, em Keren (Eritrea) dos irmãos: Merhawi, Robiel e Awet;

-      3-13: Visitarei as comunidades de BurkinaFaso;

-      11: Ministérios de leitorado  e acolitado, em Bréscia;

-      15-18:Visitarei a Comunidade de São Barnabé, em Roma;

-      18-25:Visitarei a comunidade de Casaletto, em Roma;

-      21-23:Assembleia de Superiores gerais (USG), em Sacrofano  (Roma)

-      28:Festa de São Ludovico Pavoni;

-      28:Profissão perpétua do ir. Jay-Ar, em Antipolo (Filipinas)

Ponhoo caminho de nossa Família, a eleição do novo papa e a situação de nossosdoentes, sob a proteção daVirgem Imaculada, nossa querida Mãe e de nosso Santofundador, Ludovico Pavoni.

Um abraço fraternoe sempre agradecido.

                                                                                  RicardoPinilla Collantes

Milão, 30 de abrilde 2025

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